Tolda-se um pouco a memória quando se tem que recuar tanto no tempo!...
Mas tenta-se "esgravatar" para reavivar o passado, e eis que surgem lembranças, algumas delas desconexas, outras com significado só para quem viveu ou presenciou as situações.
Vem à memória o "Empório", que recordo como um edifício de funções mistas, em frente do qual havia o Lopes & Lopes, talvez a melhor joalharia da cidade.
Lembro que funcionavam lá uma pastelaria/restaurante e escritórios. Depois de sofrer uma profunda remodelação, veio mais tarde a ser a Messe dos Oficiais, não lembro se só da Força Aérea, ou também de outros ramos das Forças Armadas.
Perto havia uma praça onde estava a estátua do General Freire de Andrade, e o Banco Nacional Ultramarino, instituição de peso nas antigas províncias ultramarinas!
Seguindo por essa praça, ia-se dar a uma outra praça em frente ao antigo Hotel Savoy, estrutura amarela com enormes varandas em ferro furjado verde escuro, perto do qual estava o prédio do Barclays' Bank. Ambos edifícios num estilo arquitectónico colonial. De frente para o hotel situava-se o primeiro prédio onde habitei, após a chegada à Beira!
Isto depois de fazer uma deliciosa viagem num dos barcos da Companhia Colonial de Navegação, o Princípe Perfeito, que foi parando em diversos portos entre Lisboa e o destino.
Da Madeira recordo o desembarque, com uns garotos a apanharem as moedas que atirávamos do navio para o mar, e depois da ida em naveta até ao Funchal, já que o barco não acostou, seguida de um passeio em trenó de verga, a descer numa velocidade vertiginosa, de causar mais susto do que prazer...
E lá fomos ao longo da costa africana, parando em Cape Town, da qual tenho uma vaga lembrança, sempre em animadas festas a bordo organizadas pela tripulação para nos entreterem. Como fomos conhecendo outras crianças no navio, as "farras" foram aumentando, e tudo o que fosse para criar confusão e chamar à atenção, era logo eleito como brincadeira favorita! Muitas chamadas de atenção levámos...isto por entre correrias pelos corredores e vôos a pique pelas escadas interiores, ao tentar fugir aos "algozes"!
Lembro-me com saudade de dois restaurantes na baixa da cidade, o "Yani", onde se comiam os melhores camarões tigre, grelhados com piri-piri, do mundo, e o "Pic-Nic", em frente ao cinema Nacional, onde se comiam uns deliciosos bifes com um molho do tipo à Nicola, ou Império, que na altura me sabiam divinalmente!
Voltando ao "Yani" (espero estar a escrever bem o nome!), este restaurante situava-se numa avenida frente ao famoso rio Chiveve, perto do qual havia uma conhecida mercearia, mais do tipo supermercado (pois lembro-me que vendia também louças e outro tipo de artigos), que se chamava Cardoso & Lopes. Ía lá com frequência com a minha mãe às compras, e até hoje tenho porcelana alemã que foi lá adquirida!
A papelaria Clássica era outro dos polos de atracção da meninice! Para começar, todo o material escolar era lá comprado, a começar pelos dicionários, e alem deste era lá que se compravam os livros de aventuras, desenhos animados, livros com bonecas e vestidos de papel para recortar e vestir, etc.,. Irresistível! Muitas gerações de beirenses passaram por aquela loja!...
E assim são aqui acrescentados mais uns pontos às memórias...
quarta-feira, 12 de maio de 2010
terça-feira, 11 de maio de 2010
Memórias de outrora II...
...e de repente surge à ideia a "Bomboniére"! Palavra chique para casa tão pequenina situada numa curva da avenida principal, que começava num jardim do qual não recordo o nome, frente ao colégio Nossa Senhora dos Anjos, e terminava na Praça do Município, no centro da baixa da cidade da Beira.
Recordo a "Bomboniére" como uma mini-loja onde se encomendavam doces e salgados para festas! Será que a minha memória me trai?!! Só sei que adorava ir lá com a minha mãe buscar as encomendas, e acabava sempre por comer algo que gostava! Coisa que era rara, já que na altura comer era sinónimo de "palavrão"! Para quem odiava ingerir quase tudo, as horas das refeições eram penosas!...Muito lanchinho foi oferecido no colégio Nossa Senhora dos Anjos às coleguinhas!...
Mas voltando atrás, à Praça do Município, que recordo ter no centro um enorme lago quadrado, tipo piscina, forrado a azulejos verde água, e com um enorme repuxo no centro.
Muitas instituições, cafés e lojas evoluiam em volta dessa praça, a começar pela Câmara Municipal, da qual recordo uma ingreme escada de pedra à entrada, onde certo dia a minha mãe deu um enorme tombo, antes de uma partida de férias para o Zimbabwe, que resultou num braço partido...
Continuando! Em volta da praça, na diagonal com a Câmara, ficavam os Correios, havendo também algumas das pastelarias mais famosas da Beira. Penso que existiam umas três, mas somente me lembro do nome da Riviera. Muitos outros edifícios ladeavam essa enorme praça, tal como o do Rádio Clube de Moçambique, e outros que a memória desvanece.
Numa das ruas por trás da praça, recordo com saudade a loja "Komytis" (será que é assim que se escreve?), onde se vendiam as bicicletas mais cobiçadas da cidade. Foi lá que comprei a minha lindíssima "Robin Hood", azul e branca, depois de ter feito com sucesso a minha quarta classe e entrado no 1º ano do liceu!
Mais à frente, na rua que se seguia à praça, havia a Casa Caravela, onde se vendiam apelativos bonecos de peluche alemães e austríacos, a imitar todo o tipo de animais, e que faziam as delícias da pequenada, que ali passava horas a tudo mirar e tocar, para desespero do dono.
E assim surgem "flash-backs" de memória, para quem já deixou Moçambique à muito tempo...
Recordo a "Bomboniére" como uma mini-loja onde se encomendavam doces e salgados para festas! Será que a minha memória me trai?!! Só sei que adorava ir lá com a minha mãe buscar as encomendas, e acabava sempre por comer algo que gostava! Coisa que era rara, já que na altura comer era sinónimo de "palavrão"! Para quem odiava ingerir quase tudo, as horas das refeições eram penosas!...Muito lanchinho foi oferecido no colégio Nossa Senhora dos Anjos às coleguinhas!...
Mas voltando atrás, à Praça do Município, que recordo ter no centro um enorme lago quadrado, tipo piscina, forrado a azulejos verde água, e com um enorme repuxo no centro.
Muitas instituições, cafés e lojas evoluiam em volta dessa praça, a começar pela Câmara Municipal, da qual recordo uma ingreme escada de pedra à entrada, onde certo dia a minha mãe deu um enorme tombo, antes de uma partida de férias para o Zimbabwe, que resultou num braço partido...
Continuando! Em volta da praça, na diagonal com a Câmara, ficavam os Correios, havendo também algumas das pastelarias mais famosas da Beira. Penso que existiam umas três, mas somente me lembro do nome da Riviera. Muitos outros edifícios ladeavam essa enorme praça, tal como o do Rádio Clube de Moçambique, e outros que a memória desvanece.
Numa das ruas por trás da praça, recordo com saudade a loja "Komytis" (será que é assim que se escreve?), onde se vendiam as bicicletas mais cobiçadas da cidade. Foi lá que comprei a minha lindíssima "Robin Hood", azul e branca, depois de ter feito com sucesso a minha quarta classe e entrado no 1º ano do liceu!
Mais à frente, na rua que se seguia à praça, havia a Casa Caravela, onde se vendiam apelativos bonecos de peluche alemães e austríacos, a imitar todo o tipo de animais, e que faziam as delícias da pequenada, que ali passava horas a tudo mirar e tocar, para desespero do dono.
E assim surgem "flash-backs" de memória, para quem já deixou Moçambique à muito tempo...
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Memórias de outrora I...
Incrível como as memórias afloram...quando se começa a puxar o fio à meada!
Anteriormente vieram as memórias das praias...hoje vem a memória da inauguração de um hotel que teve durante certo tempo um enorme peso na comunidade local. O famoso "Grande Hotel"! Um elefante branco da Companhia de Moçambique, que com os anos acabou desactivado...e virou favela para os mais desfavorecidos!
O hotel, tinha uma piscina olímpica com uma tentadora prancha de saltos ornamentais, onde se testava a coragem dos mais afoitos! Mergulhos numa profundidade de 7m, e conseguir tocar com a mão no fundo! Isso é que era valentia!...
Na altura da inauguração, o polo piscina e pavilhão de apoio, viraram a coqueluche da cidade! Grandes sessões de natação, seguidas de óptimos lanches servidos, ou nas mesas com guarda-sóis que ladeavam a piscina, ou no pavilhão.
Quanta gente aprendeu a nadar ali, sob a orientação da Maggie, uma "rodhesiana" casada com um português.
Muitos concursos de natação, com medalhas para os vencedores lindíssimas, se fizeram naquela piscina.
De repente! Surgem memórias do "Oceana"! Um restaurante frente ao mar, com as costas voltadas para o Jardim do Bacalhau (até hoje me questiono sobre a atribuição de tal nome!). Recordação de uns bifes maravilhosos, e umas bifanas não menos saborosas. Estranho que um restaurante com esse nome, fosse lembrado por pratos de carne...
Sendo a cidade praticamente plana, com muito poucas subidas, de destacar as duas que se encontravam na extremidade do jardim, dando acesso à marginal. São lembradas essencialmente por terem servido para treinar as habilidades das crianças que aprendiam a andar de bicicleta, criando-lhes emoções acrescidas. Do andar de triciclo no Jardim do Bacalhau, passave-se para as descidas a velocidade "vertiginosa", e muito joelho esfolado...
Assim decorriam os dias...
Anteriormente vieram as memórias das praias...hoje vem a memória da inauguração de um hotel que teve durante certo tempo um enorme peso na comunidade local. O famoso "Grande Hotel"! Um elefante branco da Companhia de Moçambique, que com os anos acabou desactivado...e virou favela para os mais desfavorecidos!
O hotel, tinha uma piscina olímpica com uma tentadora prancha de saltos ornamentais, onde se testava a coragem dos mais afoitos! Mergulhos numa profundidade de 7m, e conseguir tocar com a mão no fundo! Isso é que era valentia!...
Na altura da inauguração, o polo piscina e pavilhão de apoio, viraram a coqueluche da cidade! Grandes sessões de natação, seguidas de óptimos lanches servidos, ou nas mesas com guarda-sóis que ladeavam a piscina, ou no pavilhão.
Quanta gente aprendeu a nadar ali, sob a orientação da Maggie, uma "rodhesiana" casada com um português.
Muitos concursos de natação, com medalhas para os vencedores lindíssimas, se fizeram naquela piscina.
De repente! Surgem memórias do "Oceana"! Um restaurante frente ao mar, com as costas voltadas para o Jardim do Bacalhau (até hoje me questiono sobre a atribuição de tal nome!). Recordação de uns bifes maravilhosos, e umas bifanas não menos saborosas. Estranho que um restaurante com esse nome, fosse lembrado por pratos de carne...
Sendo a cidade praticamente plana, com muito poucas subidas, de destacar as duas que se encontravam na extremidade do jardim, dando acesso à marginal. São lembradas essencialmente por terem servido para treinar as habilidades das crianças que aprendiam a andar de bicicleta, criando-lhes emoções acrescidas. Do andar de triciclo no Jardim do Bacalhau, passave-se para as descidas a velocidade "vertiginosa", e muito joelho esfolado...
Assim decorriam os dias...
domingo, 9 de maio de 2010
Memórias de outrora...
O que a persistência nos faz fazer...
Muitas vezes a imposição leva-nos a testar capacidades, e apercebemo-nos de que afinal as coisas são mais fáceis do que pensávamos...
Assim, realizo que só fazendo é que se aprende! Vélhinho, muito popular, mas eficiente!...
Voltando às memórias de infância, rica de experiências proporcionadas pela vivência em terras africanas, vêm-me à memória acima de tudo os fortes laços estabelecidos no dia-a-dia entre as famílias que nos rodeavam, todas sofrendo dos efeitos do distanciamento das suas família biológicas, que na metrópole tinham ficado... Formavam-se assim novas "famílias", e a entreajuda era fantástica!
É obvio que muitas vezes o calor e a humidade eram insuportáveis, mas só de pensar que se vivia o ano inteiro ao ar livre!...
Tirando a época das chuvas torrenciais, que traziam nuvens de insectos, especialmente de umas enormes baratas voadoras e um tipo de percevejos mal cheirosos que voavam atraidos pela luz dos candeeiros da iluminação pública. Volta e meia lá tinhamos uma "baratinha" a fazer-nos vôos rasantes... o que era compensado por dias e dias a andar de bicicleta por toda a cidade, com uma noção total de independência. Doutra forma, ou andávamos de "machimbombo", ou então algum pai caridoso nos levava onde queríamos ir...
Haverá coisa melhor do que morar junto à praia?!! Ir a pé só com a toalha ao ombro e a embalagem de óleo Johnson com manteiga de cacau, para ajudar a estorricar mais? De preferência, o sol sempre apanhado nas horas de maior calor, para o efeito ser ainda mais devastador!...
E que dizer das férias, quando nos levavam o almoço à praia?!! Bem! Compreende-se agora a falta de pachorra para ter que entrar num carro e fazer não sei quantas dezenas de quilómetros... para poder gozar das delícias de uma praia! Éramos realmente uns privilegiados...
Isto para não falar dos piqueniques que volta e meia os "graúdos" organizavam para praias de sonho longinquas, tipo o Savane! Aí sim! Era em grande!...
Formava-se uma caravana de carrinhas Ford de caixa aberta, todo-o-terreno, e levava-se pessoal para montar a aparatosa encenação! Chegados ao destino, apareciam os famosos cestos de verga à inglesa, que mais pareciam malas de viagem atadas com correias de couro. De dentro delas surgiam, presas à tampa, pratos, copos e talheres, e acepipes variados que faziam as delícias da miudagem.
Não posso esquecer as idas ao Macúti onde a água do mar, longe da desembocadura do rio Xiveve, era mais verde, e onde havia encalhado um enorme barco ferrugento que era o local ideal para as brincadeiras do dia.
Muito mais há para contar... mas novos capítulos se seguirão...
Muitas vezes a imposição leva-nos a testar capacidades, e apercebemo-nos de que afinal as coisas são mais fáceis do que pensávamos...
Assim, realizo que só fazendo é que se aprende! Vélhinho, muito popular, mas eficiente!...
Voltando às memórias de infância, rica de experiências proporcionadas pela vivência em terras africanas, vêm-me à memória acima de tudo os fortes laços estabelecidos no dia-a-dia entre as famílias que nos rodeavam, todas sofrendo dos efeitos do distanciamento das suas família biológicas, que na metrópole tinham ficado... Formavam-se assim novas "famílias", e a entreajuda era fantástica!
É obvio que muitas vezes o calor e a humidade eram insuportáveis, mas só de pensar que se vivia o ano inteiro ao ar livre!...
Tirando a época das chuvas torrenciais, que traziam nuvens de insectos, especialmente de umas enormes baratas voadoras e um tipo de percevejos mal cheirosos que voavam atraidos pela luz dos candeeiros da iluminação pública. Volta e meia lá tinhamos uma "baratinha" a fazer-nos vôos rasantes... o que era compensado por dias e dias a andar de bicicleta por toda a cidade, com uma noção total de independência. Doutra forma, ou andávamos de "machimbombo", ou então algum pai caridoso nos levava onde queríamos ir...
Haverá coisa melhor do que morar junto à praia?!! Ir a pé só com a toalha ao ombro e a embalagem de óleo Johnson com manteiga de cacau, para ajudar a estorricar mais? De preferência, o sol sempre apanhado nas horas de maior calor, para o efeito ser ainda mais devastador!...
E que dizer das férias, quando nos levavam o almoço à praia?!! Bem! Compreende-se agora a falta de pachorra para ter que entrar num carro e fazer não sei quantas dezenas de quilómetros... para poder gozar das delícias de uma praia! Éramos realmente uns privilegiados...
Isto para não falar dos piqueniques que volta e meia os "graúdos" organizavam para praias de sonho longinquas, tipo o Savane! Aí sim! Era em grande!...
Formava-se uma caravana de carrinhas Ford de caixa aberta, todo-o-terreno, e levava-se pessoal para montar a aparatosa encenação! Chegados ao destino, apareciam os famosos cestos de verga à inglesa, que mais pareciam malas de viagem atadas com correias de couro. De dentro delas surgiam, presas à tampa, pratos, copos e talheres, e acepipes variados que faziam as delícias da miudagem.
Não posso esquecer as idas ao Macúti onde a água do mar, longe da desembocadura do rio Xiveve, era mais verde, e onde havia encalhado um enorme barco ferrugento que era o local ideal para as brincadeiras do dia.
Muito mais há para contar... mas novos capítulos se seguirão...
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